terça-feira, 9 de setembro de 2008

Menor Bolado


Em frente ao meu prédio existe uma garagem que nos finais de semana se transforma em um boteco. Por causa de uma pixação no muro ao lado, costumo chamar o local de "Menor Bolado".

Eram 10h da manhã do domingo passado, quando uma dupla que canta ao som de um teclado, com aquelas baterias eletrônicas no fundo, começou a cantoria.

Já houve dias de eles ficarem cantando durante doze horas seguidas!! Com alguns intervalinhos.
Às vezes você está vendo um filme, num domingo, debaixo das cobertas, em que a cena é tocante e o silêncio faz parte do momento.
O personagem está na índia, tem que decidir se fica no ônibus que o levaria embora para achar sua mãe que é maluca, ou se deixa de embarcar para participar do funeral do menino que não pode ser salvo por ele mesmo na cena anterior. O momento explora a humanidade em seu sentimento mais nobre e solidário. Mas ao fundo, invencível, uma voz se esforça em alcançar uma nota bem alta:
Entre taaapas e beeeeeijos é óóóódio é deseeeejo é paixão é loucuuuuura".

Nesse dia em especial, eu havia chegado bem tarde no sábado. Digamos que o sol já brilhava, quando fui deitar. Digamos também que aquela música sertaneja, tocada com execução um tanto suspeita, parecia estar dentro do meu quarto e o meu acordar não foi lá uma experiência das mais gratificantes.

Só me restou aceitar a realidade. Aliás, certas realidades só servem para isso mesmo, servirem de teste para sua paciência e desapego. Mas eis que, no meio da tarde, um intervalinho se fez e nossos heróis colocaram uma música de fundo quase tão alta quanto:

"Há um menino, há um moleque, morando sempre no meu coração.

Toda vez que o adulto balança ele vem pra me dar à mão.

Há um passado no meu presente, o sol bem quente lá no meu quintal

Toda vez que a bruxa me assombra o menino me dá a mão. "

Enfim, o mundo ainda tem jeito

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